O que é?
O Transtorno do Pânico (TP) tem como características os ataques de pânico recorrente e inesperado na qual a pessoa sente de modo muito intenso a ansiedade ou medo. As crises de pânico são descritas como intensas, repentinas, inesperadas e que provocam nas pessoas, sensação de mal estar físico e mental acompanhadas de comportamentos de fuga do local onde se encontra.
A experiência de quem já teve um ataque de pânico é aterrorizadora, isso causa enorme ansiedade, pois a pessoa teme que possa ocorrer novamente e que na próxima ocasião ela não consiga escapar. É então que ocorre o medo do medo.
As pessoas portadoras do TP sofrem muito, principalmente quando não são compreendidas pelos outros ou não conseguem atendimento profissional, psicólogo ou médico, adequados.
É importante destacar que a reação do pânico é normal quando existe um contexto que favoreça o pânico. Por exemplo, um avião que começa a cair, ficar preso no elevador com o prédio pegando fogo, estar se afogando. Situações assim desencadeiam o pânico, pois existe a real possibilidade da morte. Essa é uma reação natural do nosso organismo cuja finalidade é se livrar daquela situação e preservar a vida. Nas situações em que a própria vida está ameaçada o organismo toma medidas que normalmente não tomaria, perdendo o medo de pequenos perigos para livrar-se de um perigo maior. Isso é normal e saudável. O problema passa existir quando não há esse contexto real para desencadear o pânico. É diante dessa diferença que o pânico é identificado como patológico e por isso ganha o título de Transtorno do Pânico, ou seja, quando essa mesma reação acontece sem motivo real e espontaneamente.
Principais sintomas
As pessoas que apresentam o transtorno do pânico relatam que durante a crise elas sentem taquicardia, sudorese, falta de ar, tremedeiras, sensação de desmaio, náusea, pernas bambas, sensação de que vão ficar loucas, formigamentos, sensação de que vão morrer, perder o controle. Esses sintomas causam grande mal-estar e sofrimento.
Mudanças na vida
A vida dessas pessoas passam por grandes mudanças que afetam seu dia a dia, a rotina muda, as relações sociais ficam prejudicadas, pois elas temem se expor e sofrer outro ataque, que além da sensação da vergonha, é grande o medo de não conseguir meios de serem socorridas ou que ocorra o “terror” novamente. Por esses motivos elas tendem não sair do lugar onde se sentem menos expostas ou “mais seguras”. A vida afetiva, profissional e pessoal fica gravemente prejudicada. Não conseguem saír sozinhas e às vezes nem acompanhadas, e atividades como ir ao supermercado, cinema, usar ônibus, metrô, ir ao teatro, tornam-se atividades muito difíceis e penosas. Alguns pacientes acabam aprendendo a usar o álcool ou medicamentos para amenizar o sofrimento e conseguirem desempenharem algumas atividades. Isso não é bom, pois ao invés de um tratamento adequado a pessoa apenas mascara o problema e o retro-alimenta, além do que, o uso dessas substâncias pode resultar numa dependência química.
Presença do transtorno do pânico na população
WITTCHEM (1986), em sua pesquisa com a população geral americana aponta que 2,4% apresentam esse problema. O DSM-IV (2003) e NARDI (2005) com base em estudos epidemiológicos no mundo inteiro indicam consistentemente que a prevalência do Transtorno de Pânico é de 3,5% da população geral mundial.
Tratamento
A maioria das pessoas com TP sofrem muito com as diversas idas a serviços de pronto socorro, postos de saúde, hospitais e diversos outros profissionais ouvindo de cada um uma coisa, até encontrar um que lhes dê o diagnóstico de TP e os encaminham para um tratamento adequado.
Após o diagnóstico correto, há também a dificuldade da pessoa em aceitar que o TP é uma doença e precisa de tratamento especializado. Em nada vai ajudar pensar que isso é passageiro e que se resolve sozinho. Esses comportamentos apenas vão aumentar o sofrimento e os danos à pessoa, além de demorar e dificultar mais para resolver o problema.
Os estudos realizados mostram que os melhores resultados são obtidos com a associação de medicamento e terapia comportamental-cognitiva, KAPCZINSKI (2003) e RANGÉ (2001).
Pesquisas desenvolvidas para o tratamento do TP nos mostram que existe uma boa resposta de paciente com o uso de medicamentos, o que nos leva a inferir que em alguns casos existe a contribuição de fatores biológicos. 35% dos parentes em primeiro grau dos pacientes com TP sofrem do mesmo problema (RANGÉ, 2001).
A psicoterapia comportamental-cognitivo proporciona resultados muito eficientes no tratamento do TP. Compreender os mecanismos que desencadeiam esse problema e os que os mantém é fundamental para resolver o Transtorno do Pânico. É esse o papel dessa psicoterapia.
Alguns pacientes reagem bem ao medicamento e têm um bom controle das crises do pânico, porém, persiste o medo de sair de casa, de se expor, de exercer suas atividades normais e assim mantém o comportamento de se esquivar dos contatos sociais e das atividades importantes para uma vida normal. São situações como essa que a psicoterapia comportamental-cognitiva também vai utilizar seus métodos testados cientificamente para ajudar a pessoa ter uma vida normal e saudável.
A família e pessoas próximas
A pessoa com TP já sofre pelas próprias características desse problema. Mas há a relação com os familiares e pessoas próximas que, quando não entendem o que é o TP, na tentativa de ajudar acabam atrapalhando, causando mais sofrimento.
É comum na nossa experiência clínica, ouvirmos da pessoa com TP o quão desagradável é e como se sentem mal com as críticas e comentários de familiares e pessoas próximas de que isso é frescura, que é preguiça, que uma boa surra resolveria…
Outras pessoas se comportam de modo hostil, ignorando, satirizando, desrespeitando o sofrimento da pessoa com pânico. Isso não contribui para a melhoria do quadro.
Se você quer ajudar alguém com TP, é importante que se informe sobre esse assunto, e procure entender qual é a melhor forma de ajudar quem está com essa dificuldade.
A família e pessoas próximas podem ajudar muito o portador de TP a se recuperar mais rápido. Com o apoio das pessoas próximas para a realização de atividades propostas pelos profissionais (psicólogo e psiquiatra), a pessoa se sente mais compreendida, acolhida e motivada para enfrentar as dificuldades e inseguranças que podem surgir ao longo do tratamento. Por isso é fundamental o papel de apoio da família na recuperação da pessoa que está com TP.
Nunca diga, por exemplo:
• fique calmo.
• relaxe.
• você pode lutar contra isso.
• não seja fraco.
• não seja covarde.
O que pode ser feito:
• não se apavore se a pessoa com pânico tiver um ataque.
• não faça suposições a respeito do que a pessoa com pânico precisa, pergunte a ela.
• evite surpresas, sempre comunique o que vai fazer.
• crie um contexto que proporcione a quem sofre de pânico a tranqüilidade necessária para se recuperar.
• encoraje a pessoa a continuar o tratamento.
• mostre outro lado, positivo das coisas, evitando o pessimismo e o pensamento catastrófico.
• peça ajuda se precisar se fortalecer para continuar paciente e ajudando a pessoa com o TP.
Bibliografia
WITTCHEM, H.U.;AHMOI, E.C.; Von ZD et al. Lifetime and sixmonyh prevalence of mental disorders in the Munich Follow Up Study. Eur.Arch. Psychiatry Clin. Neurosci., v.241, n.4, p.247-258.
DSM-IV-TR – Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. trad. Cláudia Dornelles; – 4.ed. ver. – Porto Alegre: Artmed, 2003.
Nardi AE, Valença AM. Transtorno do pânico: diagnóstico e tratamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005.
RANGÉ, Bernard. Org.: Psicoterapias cognitivo-Comportamentais: um dálogo com a psiquiatria. Porto Alegre: Artmet Editora, 2001.
KAPCZINSKI, Flávio e col.: Transtorno do pânico: o que é? Como ajudar? Um guiade orientação para pacientes e familiares. Porto alegre : Artmed, 2003.