Compulsão Sexual

O que é?

É a busca e/ou envolvimento exagerado por práticas sexuais diversas, que são percebidas como fora do controle e que causam prejuízos a vida social, familiar, trabalho e saúde.

Dentre essas práticas podemos destacar os seguintes comportamentos:

•    Busca cada vez maior por novas parcerias;
•    Masturbação compulsiva;
•    Utilização exagerada por filmes ou literaturas eróticas para esse fim;
•    Uso compulsivo da internet na busca de materiais para a excitação sexual;
•    Com o passar do tempo, a pessoa sente a necessidade de aumentar a frequência das atividades sexuais para obter as mesmas sensações de prazer. Porém, proporcionalmente há o aumenta da angústia. É um mecanismo muito parecido com a dependência química (drogas), na qual a pessoa precisa de cada vez mais para obter o prazer que ele um dia sentiu.

Problemas decorrente da compulsão sexual:

A pessoa com compulsão sexual tem uma relação com o sexo diferente das pessoas que não apresentam esse comportamento. Para quem não tem a compulsão sexual, o sexo, na maioria das vezes é praticado em busca do prazer, complemento da relação, jogos de sedução são partes integrantes no processo de socialização, e contribuem para o desenvolvimento sadio da auto estima. Já quem tem esse problema, pratica o sexo para aliviar um sofrimento. Sentem prazer sim, mas é um prazer muito cego, limitado e assustado. Dura muito pouco. Logo essa pessoa precisará novamente dessa “droga”.

Com o tempo a pessoa tenderá a buscar cada vez mais recursos para saciar sua necessidade, por isso gasta muito do seu tempo útil na busca de pessoas ou situações para se “satisfazer”.

Por causa do tempo desprendido as atividade envolvendo o sexo, a pessoa prejudica seu trabalho, se isola cada vez mais do convívio social, familiar, passa a praticar verdadeiras manobras e rituais para manter a busca pelo sexo. Com isso, é muito comum os argumentos (mentiras) em casa para justificar o tempo gasto nessas atividades. No trabalho, com o baixo rendimento é comum a demissão. Assim  a pessoa não consegue enxergar que sua vida está girando em torno do sexo.

A negação

Uma das grandes dificuldades de mensurar a quantidade de pessoas que sofrem de compulsão sexual, é a negação. Como no desenvolvimento desse problema o prazer é algo que permeia a pessoa, é muito difícil para a pessoa envolvida enxergar que atrás desse conjunto de comportamentos sexuais se esconde alguns problemas. Por isso, a negação é, durante muito tempo, o principal argumento dessas pessoas. Somente após perdas significativas como trabalho, família, amigos, saúde… a pessoa começa o processo de reconhecimento de que precisa de ajuda.

Casos

Uma mulher de 38 anos, casada, me procurou se queixando do modo como ela se relacionava sexualmente. Dizia que não conseguia parar de pensar em sexo, que fazia altas manobras para vivenciar o prazer sexual. No seu trabalho quase que diariamente ela se ausentava de 1 a 3 vezes para fazer sexo com alguém que acabara de conhecer ou outros já conhecidos. Em casa, frequentemente solicitava serviços delivery, como pizzas, gás, encanadores… e esses eram recebidos por ela na área de serviço e ali mesmo ela praticava sexo com eles, se interessando apenas pelo seu prazer/alívio. Assim que ela atingia o orgasmo, literalmente os expulsava dali. Sempre era tenso. Junto com a angústia e o arrependimento, vinha o pensamentos e estratégias de como faria sexo novamente.

Outro caso, o de um homem de 40 anos, separado, que se dizia ser bissexual, se queixando de muita ansiedade e angústia. Durante o processo terapêutico ele revelou que já havia perdido o casamento, o trabalho estava muito prejudicado, se afastou dos amigos, sua vida estava muito desorganizada, atolado em dívidas e que ficava de 4 a 8h por dia (horário de trabalho), na busca por encontros para o sexo. Ele fazia sexo em média com 60 pessoas diferentes por mês. Essas relações eram sempre rápidas, vazias e acompanhadas de muita ansiedade. Com essa dinâmica ele não conseguia organizar sua vida, e muito menos compreender os sentimentos que desencadeavam esses comportamentos.

Quando é o início da compulsão sexual?

De acordo com a OMS, em 1993 é mais comum ter seu início no final da adolescência ou no início da vida adulta.

Porém,  a procura por ajuda costuma ser tardia, quando as consequências negativas para a saúde, trabalho, família e social tornam-se muito evidente.

Num primeiro momento, e isso pode levar anos, a pessoa nega a existência desse problema, o que é uma característica marcante desse problema. Somente quando se sente pressionado a pessoa procura ajuda.

Os episódios de compulsão sexual, normalmente passam por quatro fases (Carnes, 1989):

1.    Fissura: a pessoa fica envolvida com pensamentos sobre sexo, são pensamentos muito fortes e ela procura por sexo em todos os lugares.
2.    Ritualização: ela desenvolve uma rotina que a conduz ao comportamento sexual. Isso significa, passar por lugares que ofereçam estímulos sexuais, acessar a internet com essa finalidade, tentar seduzir profissionais dos sexo (garotas e programa, travetis…).
3.    Gratificação sexual: nessa etapa a pessoa já está muito envolvida com o prazer e dificilmente conseguirá parar antes de efetuar o ato.
4.    Desespero: após o ato a pessoa se sente fraca, com remorso, impotente por não ter conseguido evitar.

Epidemiologia

De acordo com estudos realizados nos EUA, na década de 80 (Carnes, 1989), apontam que  de 3 a 6% da população americana apresentavam esse comportamento. Porém, com o advento da internet é muito provável que esse número tenha aumentado.

No Brasil, até o momento não temos pesquisas amplas falando dessa prevalência na população brasileira.

A prevalência é maior nas pessoas do sexo masculino.

Causas

As pesquisas apontam para fatores multi causal.

Do ponto de vista neuroquímico, estudos não conclusivos apontam para aspectos relacionados a recaptação da serotonina (Hollander, E. Wong, 1995).

Do ponto de vista das causas psicológicas há um leque de fatores que podem causar ou desencadear a compulsão sexual. Dentro desse leque, é comum encontrarmos pessoas com a auto-estima baixa, timidez, sentimentos de inferioridade, de menos valor perante a sociedade. Além disso, muitos apresentam dificuldades de se envolverem num relacionamento afetivo. Todos esses fatores, por exemplo, causam mal estar, sofrimento, angústia e ansiedade. Em algum momento, tais pessoas tiveram contado com alguma sensação que lhes causaram alívio (nesses casos, atividades envolvendo o sexo). Esse alívio representou um reforço positivo, que é um estímulo que leva a pessoa a buscar essa mesma sensação de prazer todas as vezes que ela tiver as sensações ruins, desencadeadas pelos exemplos acima. Desse modo, enquanto os fatores desencadeadores se mantiverem, essas pessoas continuarão se sentindo mal, e por não saberem lidar com essas emoções, voltam a buscar os mesmos recursos para amenizar o mal estar.

Esse mesmo mecanismo está presente nas pessoas que também buscam, por exemplo, o álcool, drogas para aliviar essa angústia. As escolhas de cada um dependem de fatores genéticos (predisposição) e de fatores ambientais (a interação da pessoa com o meio em que ela vive).

Tratamento

O tratamento pode ser feito em duas linhas de frente: medicamentoso e psicoterapia.

No primeiro momento é necessário que um profissional (psicólogo e/ou psiquiatra) seja consultado para analisar o caso. Com base nessa análise, o paciente será orientado.

Existem casos de sucessos que foram tratados apenas com a psicoterapia. Outros precisam fazer uso de medicamentos, que inclusive, vão ajudar no processo psicoterapêutico.

Na psicoterapia, a pessoa aprenderá a reconhecer os fatores que causam a dor, a angústia e o sofrimento. Perceberá também que muito do modo como ela se percebe no meio em que vive, está equivocado. Nesse processo a pessoa perceberá que existem outras maneiras de se ver, se relacionar, se envolver…

Com a evolução do processo da psicoterapia, a pessoa terá condições de identificar os fatores desencadeadores e a evitá-lo, bem como a se relacionar de modo saudável com as área antes afetadas (família, trabalho, social, relacionamentos…)

No tratamento psicoterapêutico, de acordo com a avaliação do profissional, existe a possibilidade de ser tratado numa psicoterapia individual, casal, grupal ou familiar. Esse último, em especial, será muito importante no processo de ajuda na recuperação da pessoa que sofre com compulsão sexual.

Bibliografia

ABDO, C.H.N. (Org.) Sexualidade humana e seus transtornos. 2. ed. São Paulo: Lemos; 2000.

ABREU, C. N. de. Manual clínico dos transtornos do controle dos impulsos / Cristiano Nabuco de Abreu, Hermano Tavares, Táki Athanassios Cordás, organizadores.  – Porto Alegre: Artmed. 2008.

CARNES, P. Contrary to love: helping the sexual addict. Minneapolis: CompCare: 1989.

HOLLANDER, E.; WONG, C. M. Body Dysmorphic disorder, pathological gambling, and sexual compulsions. Jurnal Clinical Psychiatry, v. 56, suppl. 4, p. 7-12, 1995.

RODRIGUES J., Oswaldo M. Objetos do desejo: das variações sexuais, perversões e desvios. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo, Iglu, 2000.

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