Oniomania

O que é?

O comportamento de comprar de forma compulsiva, na maioria das vezes passa despercebido pelas pessoas até se darem conta que perderam o controle. É nesse ponto que começam a perceber que o “rombo” financeiro e emocional é grande e que sozinhos não conseguirão sair dessa situação.

As pessoas com essa dificuldade apresentam um descontrole muito grande em relação ao ato de comprar, elas passam muito do tempo útil dedicando sua atenção, desejo e estratégias para adquirir o objeto da compra. Tudo isso é acompanhado pela incapacidade de controlar as finanças e o comportamento de comprar.

Pode parecer estranho que isso seja um problema, mas basta ver como é a vida das pessoas que apresentam esse problema. Quando atendemos pessoas com essa queixa, percebemos que existe muito sofrimento, pois o ato de comprar deixou de ser um comportamento comum, que a maioria de nós fazemos, e passou a ter outra função. Todos nós fazemos compras, que em muitos casos nos proporciona prazer, pois adquirirmos algo que queríamos. Por vezes, fazemos cálculos, revemos nossa contabilidade, podemos até fazer um exagero, mas logo resolvemos. Para as pessoas que apresentam a compulsão por compras, não é bem assim. O comprar têm outras funções, dentre elas, encontramos a necessidade de alívio. De acordo com autores (Abreu, Tavares, Cordás & cols. 2008) e profissionais psicólogos e psiquiatras que trabalham com essa demanda, são unanimes em dizer que os compradores compulsivos apresentam a autoestima muito baixa e a impulsividade elevada, ou seja, apresentam dificuldades no controle dos impulsos, e são facilmente influenciados pelos estímulos da cultura (por exemplo, propagandas). Com base nisso, é de se esperar que tais pessoas busquem formas de aliviarem essa condição que lhes causa sofrimento. É então que entra o ato de comprar. Essas pessoas experienciam, ao comprar, uma sensação de alívio, de curta duração. Com o tempo, isso vai tomando proporções maiores, e o alívio, associado a um pequeno prazer se transformam em problemas, pois o ato de comprar é precedido de muita ansiedade, sofrimento, angústia, já que a pessoa sabe que não deveria fazer aquilo. Ao comprar, vem a outra etapa do processo, a culpa. Essa culpa é consequência de seu ato de comprar compulsivamente e por se dar conta que mais uma vez não conseguiu resistir ao impulso de comprar.

De acordo com o DSM-IV-TR, uma das principais características para o diagnóstico de comprador compulsivo é a incapacidade de resistir ao impulso de comprar. É exatamente essa sensação que tais pessoas nos descrevem. Isso é muito ruim, pois eles vivenciam a constante sensação de fracasso por não conseguirem se controlar frente ao impulso de comprar.

Outras características importantes, que sugerem tal diagnóstico, é a frequente preocupação com questões que envolvam o ato de compra (como comprar, como convencer as pessoas que preciso comprar tal coisa, como convencer os credores que conseguirei pagar…), que são pensamentos intrusivos e irresistíveis. Compram mais do que precisam, e o ato da comprar envolve muito mais tempo que o necessário. Todas essas preocupações geram sofrimento, consome muito tempo útil e atrapalham outras áreas da vida da pessoa como, o a social, familiar, profissional, afetiva…

É muito comum essas pessoas justificarem o ato de comprar dizendo que precisam comprar aquilo para uso pessoal, o que é real. Mas com o tempo e com as constatações de que não precisam comprar para si, elas justificam a compra dizendo que é presente para amigos, familiares, marido… Em parte, nesse caso, há um movimento de tentar aliviar a culpa por não resistirem a mais uma compra e de tornar tais pessoas cúmplices da sua necessidade de comprar.

Em meio a esse caos, essas pessoas tentam esconder dos familiares e pessoas próximas a sua real condição financeira, pois se envergonham de seus atos, de seus descontrole. Infelizmente, as pessoas próximas levam tempo para perceberem, e isso pode significar um rombo financeiro significativo. É muito comum que tais pessoas sofram ações da justiça, são interditadas, ficam com o nome sujo, perdem o crédito no mercado, não conseguem se controlar e se continuarem sem ajuda, só vai piorar.

Epidemiologia

São poucas as pesquisas populacionais com enfoque nessa área. Mas a estimativa na população geral é de 2 a 8% que apresentam esse comportamento de comprar compulsivamente com prejuízos pessoais graves (Black, 2006), sendo mais comuns nas mulheres que nos homens (Sadoc, 2007).

Origens

Ao tratarmos de tais pacientes, frequentemente nos deparamos com um leque de fatores que contribuíram para o desencadeamento desse problema. Quando analisamos a história de vida dessas pessoas, facilmente encontramos um contexto, onde o meio em que viveram e/ou vivem não é nada favorável para o desenvolvimento saudável. Muito pelo contrário, tais pessoas precisaram aprender a lidar com essas dificuldades e cargas emocionais negativas sem ter um suporte adequado para lidarem com essas emoções. E aí está o problema, que não se aplica apenas a compulsão por compras, mas sim, a um enorme leque de problemas e distúrbios. Diante de algumas fortes emoções, dores, desconfortos, todos nós fazemos algo para nos livrar desse mal estar. Alguns encontram alívio ao conversar com alguém, outros ao praticarem esportes, outros usando drogas, sexo, comida, bebida, e outros ao comprar. São as mais variadas formas que podem ser usadas para nos aliviarmos desses sentimentos ruins.

Não existe uma idade certa para aprendermos a canalizar esses sentimentos por essas vias. Como dissemos, dependerá das variáveis e dos fatores que reforçarão aquele comportamento ao ser vivenciado. Por exemplo, eu atendi uma paciente que além da queixa do descontrole nas compras, também se queixava do seu sobre peso. Ao analisar sua história, me deparei com um relato que em toda sua infância e adolescência, sempre que tinha brigas em casa, seu pai levava todos para comer. Dessa forma criou-se um condicionamento, que, logo após as brigas, havia comida, o que gerava uma sensação de descontração e alívio. Assim ela aprendeu a associar o estado de ansiedade, mal estar, angústia a comida.

Sem dúvidas, os apelos sociais ao consumismo são também fatores que podem contribuir para o desencadeamento desse problema. Quando isso é associado a fatores conflitantes em casa, como brigas familiares, agressões, frustrações, desprezo, falta de afeto, ou a fatores como problemas no trabalho, geram sentimentos muito ruins, e tudo isso contribui para o descontrole do impulso de comprar compulsivamente.

É importante salientar sobre a participação da genética nesses casos. Não que exista um gene para a compra compulsiva, mas há casos em que a genética está presente no descontrole do impulso. Abreu, Tavares, Cordás & cols. 2008; Sadock, 2007; DSM-IV-TR, 2002.

Tratamento

Quando falamos de tratamento, devemos pensar que duas frentes: o psicoterápico e o medicamentoso. Cada caso precisa ser analisado individualmente. O profissional envolvido analisará a melhor conduta a adotar, se só a psicoterapia ou o uso de medicamento associado. Os medicamentos mais utilizados são os antidepressivos e estabilizadores de humor.

No tratamento psicoterápico existem diversas abordagens teóricas que podem ser utilizadas. A abordagem comportamental-cognitiva é bastante indicada, não só pelo embasamento teórico, como também, porque vai ajudar a pessoa a desenvolver a percepção das emoções que levam ao impulso de comprar. Durante o tratamento, o paciente também aprende o que fazer nesses momentos em a mente é invadida pela necessidade de comprar.

O psicólogo ajudará a estabelecer regras técnicas que promoverá o aprendizado de novas e saudáveis formas de pensar e se comportar. Para isso, o profissional precisará conhecer a pessoa e entender quais padrões de pensamentos e comportamentos precisão mudar e ajudar para que isso aconteça. Durante o processo, pode ser necessário controlar as contingências do dia a dia da pessoa para que não seda aos impulsos. Mas tudo é feito de comum acordo e sempre apoiado pelo profissional.

Referências

ABREU, Cristiano Nabuco de. Manual clínico dos transtornos do controle dos impulsos / Cristiano Nabuco de Abreu, Hernano Tavares, Táki Athanássio Cordás, organizadores. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

BLACK, D. W. Compulsive shopping In: HOLLANDER, E. STEIN, D. J. Clinical manual of impulse control disorders. New York: APP, 2006

DSM-IV-TR – Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. trad. Cláudia Dornelles; 4.ed. rev. – Porto alegre: Artmed, 2002.

SADOCK, Benjamin James. Compêndio de psiquiatria : ciência do comportamento e psiquiatria clínica / Benjamin James Sadock, Virginia Alcott ; tradução Cláudia Dornelles … [et al] . – 9.ed. – Porto Alegre : Artmed, 2007.

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